MINHA CARTA DE ALFORRIA
(ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA)
Minha carta de alforria:
Não me deu alguma terra.
Ganhei apenas luz do dia
Junto com o sol da serra!
Minha carta de alforria:
Não me deu um trabalho.
Atirou-me nessa letargia
Desse viver sem cascalho.
Minha carta de alforria:
Não veio com a dignidade.
Fiquei livre das correntes,
Mas preso na necessidade!
Minha carta de alforria:
Não me deu uma vida boa.
Subemprego sem moradia,
Na favela qualquer, à toa!
Minha carta de alforria:
Da senzala para a favela.
Feliz, se tem sol e chuva
Com a feijoada na tigela!
Minha carta de alforria:
Foi aquele golpe imperial
Dando o negro luz do dia
Como a qualquer animal.
Minha carta de alforria:
Foi aquela sacanagem total:
Fiquei sem pão e moradia
Com esse golpe imperial!
Minha carta de alforria:
Só me deu uma noite fria.
A feijoada: almoço do dia,
E o barracão na periferia!
Paródia: NEGRO FORRO
– ADÃO VENTURA)